Joguinhos de sedução conjugal?!...
Visões matutinas... Oh vida, oh céus! Ah, se ainda fossem noturnas... Mas quem mesmo poderia resistir a gostosa sensação de se sentir completamente envolto por longos, cheirosos e lindíssimos cabelos femininos, criteriosamente cuidados e quase divinalmente movimentados diante de seu passionalmente fragilizado alvo conjugal?...
Logo pela manhã, ainda sob aqueles misteriosos e umtantoquanto desconcertantes efeitos visuais da aurora invadindo nosso quarto de vestir, fiquei ali por bons instantes a observar o esmerado cuidado de "minha" mulher, a babezinha, com seus cabelos, pele, unhas, roupas e acessórios... Geeente do céu! Acreditem que só de olhar para aquela madura e bonita imagem da difícil criatura ali toda concentrada nos seus alinhavos, retoques e arremates de embelezamento, traje e perfumaria, podia-se antever claramente seu belíssimo grau de higiene corporal, cuidados pessoais e naturais atrativos passionais. Aliás, aquece-me o coração, e algo mais também, aqui lembrar quanto tais belas e sensuais imagens num ambiente íntimo feminino fazem bem, enquanto bagunçam a costumeira pouca racionalidade de todos nós homens, estes passionalmente dominados enquanto mais ainda abobalhados machinhos de alcovas.
Confesso que até mesmo o delicado ruído das escovas e o sensualissimo balançar dos seus ébanos capilares tiravam-me completamente do sério, ali mergulhando-me na mais profunda abstração idosa, mas ainda pra lá de passional... Enquanto ela, ali toda concentrada, preparava-se para mais um dia de trabalho e involuntárias (?) provocações sensuais. Inclusive, a partir daquele meu já costumeiro lusco-fusco psicológico, ali provocado a partir das minhas nem sempre autorizadas observações matinais daquele verdadeiro ritual corporal de minha sócia conjugal, aqui quase chego a jurar que assim a observando conseguia até mesmo invadir um naquinho o seu vasto interior psíquico, então antevendo seus ora pacíficos, bondosos e amorosos, mas logo a seguir barraqueiros, ruidosos e até mesmo perigososamente amadurecidos perfis sentimentais, passionais e temperamentais. Aliás, durante nossa alongada e quase sempre personalissimamente espinhenta vida conjugal, tudo e um tanto mais acontecia segundo sua exclusiva e obedecida vontade ou, oh vida, oh céus! segundo a ausência dela.
Aquilo tudo arrepiava-me passional ou pesarosamente só de olhar ou pensar nos seus possíveis desdobramentos psicológicos... ...Imaginem, então, o que quase certamente poderia vir a acontecer durante seus breves mas pessoalissimamente profundos momentos de interação sentimental ou explosivamente passional, com um sortudo ou azarado qualquer feito eu. Aliás, disso não sei bem o porquê, mas desde bastante tempo já, mesmo ainda apenas em pensamentos, heheheaiaiaiaiiii... eu quase sentia as fisgadas de doloridas espetadelas, como se acariciasse sofregamente um agitado ouriço, ou um espinhento abacaxi.
Acreditem ou não, mas mesmo depois de mais de quarenta e dois anos de nossa amorosa, briguenta e reconciliadora relação conjugal, em beeeeem mais de quarenta e duas ocasiões semelhantes, eu ficava assim, quase babando, mas ainda estranhamente temeroso ao vê-la ali tão pertinho, enquanto amorosa, psíquica e espiritualmente quase sempre tão distante...
...Embora já me sentisse tristemente conformado a seguir ali, pacificamente, treliscando-me de raiva e decepção por ter permitido que uma bonita, longa e amorosa relação conjugal como aquela enveredasse para essa tristemente excessiva racionalidade e contenção sentimental, acabando numa exageradamente esfriada relação administrativo-conjugal e quase nada mais. Isso tudo, felizmente, sem quaisquer violências físicas ou maiores repulsas pessoais quando, naturalmente, a própria paixão inicial não resistiu por muito tempo... Por mim tudo bem, berembembém! Até mesmo porque eu conhecia de cor e salteado o que lhe "escorria" pelo seu passionalmente belicoso espírito e umtantoquanto envelhecidamente ressentido coração.
Felizmente, o nosso amor se transformou realística e administrativamente, mas ainda não acabou...
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Em tempo: Perdoem-me por escrever tão delicado e intimista texto assim, na primeira pessoa... Quando aqui devo confessar que assim o fiz por absoluto medo das possíveis reações "antipáticas" do marido madrugador da babezinha, ao possivelmente vir a saber que "entrei" em sua mente e coração para registrar o presente imbróglio conjugal, embora já de longa data sabendo-o não muito afeito a leitura de textos acima de duas linhas e sem divertidas figurinhas. Quando aqui peço perdão ao padroeiro dos fofoqueiros...
Armeniz Müller
...Oarrazoadorpoético.