Estereoscópico
Passou o tempo
Nem tão rápido
Mas carregado
E por não ter concretizado o desejado
Dizia que passou perdido
Que havia se atrasado
Não tinha vivido.
No entanto, houve um
Cotidiano, a realidade,
Com visões de mundos particulares,
criativos.
Tinha um microscópio estereoscópico!
Sob tal lupa viu a vida que relativamente poucos avistaram! Descobriu paisagens sob lentes, luz, como se adentrasse gigante, no mundo dos pequeninos.
Numa pequena amostra de solo e de fragmentos em diferentes estágios de decomposição de folhas, raízes, sementes, musgo, a serapilheira, um grande mundo de pequenos seres quase interplanetários, se revelava : tardigrados*, ácaros, adultos diminutos de insetos e predadores, e bebês de aranhas, e ainda, ovinhos, larvinhas, ninfas, os próprios grãos de areia, as muitas cores num pouco de lodo.
Chãos cheios de vida, vidas que perfazem uma intrincada rede de equilíbrios!
Quanto mais ampliava o grau de resolução da imagem sob a lupa, detalhes revelavam casos, como o de uma carapaça vazia denunciando o fim da etapa de metamorfose de alguém; e o corpinho de um mini-mini besourinho, escondendo-se da luz debaixo de um grão de areia; e ainda, da eficiência de um apêndice franjado para nadar e flutuar de um microcrustáceo; das cerdas enfileiradas nas pernas de uma pequenina aranha com valor na reprodução;
Tanto no viver, como nas circunstâncias encerradas no mundo daquela placa com serapilheira, quando se perde a visão do todo, por focar somente um ponto, há que respirar fundo, diminuir progressivamente o aumento da imagem até cuidadosamente recuperar a visão do cenário total. Somem assim, o vazio de um ponto, ou a escuridão de outro, dando lugar a um horizonte, em perspectiva mais abrangente.
As rotinas de exame de solo/ serapilheira lhe deram a exata assertiva de sua vida. Um dia, divagou que não gostaria da visão microscópica, como a de pequeniníssimas partes numa lâmina, pois, apenas conjecturas poderiam dar a noção de origem do material biológico nestes casos, o que dificultaria certamente a viagem imaginativa, a visão de um ser vivo completo.
Não foi uma vida perdida,
afinal,
foi de aprendizado, e de ensinamento
sobre pequeninos seres que quase invisíveis, vivem toda sua vida nos solos e substratos, sustentando tudo o que veio depois. Esse é o solo que pisamos.
Esteve próxima da diversidade, das estratégias dos bichinhos, procurou os lucífugos, esforçou-se por achar todos eles, teve que ajustar o foco n vezes, rebater a luz e voltar a tempo, e guardar na mente a paisagem do todo.
Teve um microscópio estereoscópico!
E as Ciências Naturais!
Não foi perdido!
* Tardígrados: São um Filo de animais microscópicos fascinantes, com aparência de pequenos ursos, capazes de sobreviver em diversos tipos de condições extremas, temperatura, pressão, radiação, disponibilidade de água.