06/09/2022

A verdade é que, na minha paciência universal, escondo um lamurioso de mão cheia.

Ignoro os olhares periféricos, olhando para tudo e, ao mesmo tempo, negando minha existência.

Na verdade, não há nada que eu ignore. Tudo é fragmento de uma dor reprimida, crescendo, pungente, no seio da minha amargura.

Disse que não ficaria chateado, mas fiquei. Disse que estava tudo bem, acontece que não posso evitar de entristecer.

Não, não seria mais simples se eu expressasse o que sinto de verdade. Na verdade, não sei ao certo o que sinto.

Expressar o incognoscível é a dádiva daqueles que se satisfazem em pertencer ao experimento dos psicanalistas.

Não pertencemos nós todos? Não importa.

Sim, fiquei chateado por você ter saído no momento em que me mostrei vulnerável.

Sim, menti quando disse não se importar com a sua saída.

Não, não é só sobre você, mas sobre toda essa massa de memórias cortantes que assaltam minha racionalidade.

Sou apenas um louco balbuciando palavras, não? Desses que vagueiam pela Rui Barbosa...

A diferença é que o louco explícito é percebido, mesmo que em um lapso de curiosidade popular.

Já este louco tácito - mero espectro, sem sombra ou nome que acompanhe - é apenas um vislumbre

daquilo que esquecemos quando voltamos ao que interessa.

Eduardo Becher
Enviado por Eduardo Becher em 06/09/2022
Código do texto: T7600096
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