Estações
E quando às vezes sou outono, desfolho poesias no fim da tarde e atapeto de sentimentos o chão de meus silêncios. Em restos de sóis me esvaio lentamente pelas saudades das quenturas, quando a noite vem roubar-me os clarões das felicidades que já tive.
E quando em outras vezes me visto de primaveras, nas horas mornas da tarde, recorto nuvens com o olhar esticado pela imaginação. No infinito alonga-se o azul do céu, tal qual papel de parede e segue a visão sobre as nuvens recortadas, vestindo sorrisos e esperanças, até que a noite espalhe estrelas, como que polvilhando de brilhos toda essa paz que há em mim.
E aí dos invernos que me faço, desfio o frio nos beirais da tarde, sempre arrastando meus nevoeiros, na tentativa vã de me esconder, porque a solidão é sempre cercada de tumultos. E a noite então despenca e esconde a névoa, despindo-me diante do escuro. Vejo as luzes se acenderem nos postes e ficam como que escravizadas, algemadas pelos pedaços de ruas que clareiam.
E então prefiro meus verões em que sou mar beirando sertões no esquecer das tardes. Quase me afogo em desejos e de amores me deito nas delícias daquelas praias que escorrem pelo corpo dela. E a noite simplesmente se estende por inteira e se oferta para a navegação de nossas carícias até o amanhecer.