Tenho um olhar grafiteiro. Pichador dos muros que levantei entre o que há em mim e o que há no mundo.
Pincelo com ele a saudade infinita de um olhar afetuoso que por causa do vento forte, impregna-se da poeira da dor da despedida.
Entre as frestas, é possível ver um mundo inviolável. No interior cabem universos inteiros de sentimentos embrulhados nas emoções que foram sufocadas pelo medo.
Os tijolos eram fardos. E, foram postos ali, sem critério. Quando despertei, já haviam cruzado a dimensão da altura e do outro lado nada se via. A não ser pelo espaço que separa um bloco do outro. Improjetável.
Nas mãos de quem pinta os muros, os calos indicam a precisão do intervalo: não se apagam grafites em preto branco e não se pinta sobre o desenho anterior, sem aproveitá-lo.
Tenho um olhar grafiteiro. E nele as cores parecem desbotadas. As emoções enlatadas são pulverizadas e o muro se encharca e escorre.
Tenho um olhar grafiteiro. Mas acabaram as tintas…