Ele
Estou de olhos cravados nos campos brancos desta tela,
com minhas mãos no teclado buscando as palavras.
Um outro eu caminha por uma estrada à beira de um rio,
ouvindo o barulho das águas batendo nas pedras, e
olhando o passeio das nuvens brancas no imenso céu azul.
Ele, o outro, é quem corre pelos campos, que sobe as montanhas.
Ele é quem fala com os pássaros e com as estrelas, que diz o que sente quando diz, mas está na maior parte do tempo em silêncio. Para ele falar é pensar e pensar nos separa do mundo.
Eu sou o que escreve, o tagarela, o dependente das palavras.
Sou eu que limpo o banheiro, fico nas filas, que vou as compras.
Os nomes dos meus verbos são: ter, crescer, vencer. O verbo que ele conjuga é apenas e completamente ser,
mas é ele que suaviza e não deixa o meu juizo enlouquecer.
Ele é o menino que insisti em não crescer.
A noite ele me leva para passear com ele, e nós brincamos de esconde- esconde pelas florestas de estrelas.