RESIDUAL
Eu não sei bem como tudo virou uma bolha inflada dentro do ar que respiro e das cores que vejo é como se fosse um grande apagão de passos embriagados pelo cigarro tórrido que conflita minhas indecisões.
Assim, em meio a mais uma noite em que os ponteiros do relógio mais parecem estremecer o córtex das entrelinhas neurais da minha existência eu regurgito o verbo ser.
Eu engulo como se espinhos atravessassem minha laringe em um único fôlego, e assim permaneço na ofegância do escudo das minhas mãos impacientes que gesticulam o gosto de um olhar vago que se perde entre a pele cinza acariciada pelos ventos quentes de agosto e as cicatrizes parturientes.
São 23h53min, a rua ressoa a dissonância do orvalho da noite e da escuridão das nuvens que flutuam na brisa leve ao tocar o silêncio das chaves que trancam o sono e libertam os sonhos.
Talvez não sejam as horas, talvez não seja o tempo, talvez seja apenas as rugas que enrijeceram suas linhas e agora percorrem a fina camada da compreensão de si, no estado sólido, liquefeito e fluído das sobras de mim.