O toque leve do vento levanta a saia da menina que corre para um canto em busca de abrigo.

 

Românticas investem tímidas no antigo evasê, embora a vida dê voltas de babados sobrepostos que não são arrastados por ele.

 

Na alma, um jardim florido, tal qual a cor da saia, apesar da seca que o castiga. Desbotados os tons parecem enfraquecidos, mas rememoram a beleza: a gênese é a mais perfeita confecção do universo.

 

Na pureza do olhar ressabiado, há uma ternura feminina cultivada com o adubo do amor: a flor frondosa nasceu do cuidado.

 

Associada ao movimento livre juvenil, está a peleja de carregar a bagagem de um ventre, num mundo cruel e selvagem.

 

Enquanto se diverte, segurando a saia, o vento vai aumentando sua força e a menina, se vê despida, sem permissão.

 

Invasões causam reações físicas de alta pressão. Foge em linhas perpendiculares, desgovernada, à procura de um abrigo, uma mão, um sorriso ou uma trégua do tempo.

 

Na rota da fuga, vê-se refletida na vidraça da janela. Olhar atento de quem se viu diversas vezes, abaixo daquela fechadura, distante do alcance.

 

Tocou a porta e, abrindo-a, respirou:

 

- Sempre terei um lar que me abrigará da força dos ventos...

 

Menina de saia rodada, de alma florida e olhos atentos, que se assusta com a força do vento. Ingênua, pequena e levada, não podia parar no tempo?

 

 

Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 19/08/2022
Reeditado em 19/08/2022
Código do texto: T7585677
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