Sabor de inverno de um domingo a noite
Pétalas caídas não fazem jardins floridos
Saudades que voam não cumprem promessas
Palavras escritas não substituem prosas saudosas
Voltar atrás não cura feridas
Era uma tarde chuvosa quando decidir correr na chuva
Lavar a alma que estava cansada de não tentar
Deixar molhar as cicatrizes das certezas
Se afogar nas poças que mal cabiam meus pés
Deixar escorrer o que não me pertencia mais
Fechar os olhos e me ver fora de mim
Como se o sol não fosse cruzar o horizonte
Ali tinha uma tempestade
Uma tempestade que o sol não era o suficiente para expulsa-la
E em uma das corredeiras que ali um rio se formava
Observei uma pétala sendo levada
Tão leve e rápida como a brevidade da vida
Não sei qual foi seu fim
Como também não lembro
A última gota que abotoou minha pele molhada
Trouxe lucidez a minha alma
E como uma chuva de verão
Tudo passa e passa rápido
Como as flores do sertão
Que tem pressa, mas também carrega perfeição
E tudo que vira recordação
Pode se transformar em saudades
Em vontades que a vida não permite
Saborear novamente.