„Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada;
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira, e a errada!“
(Fernando Pessoa)
O dia de cada um...
Quero de presente, do dia
Este seu dia, todo novinho!
Mas quero,
Antes da chegada de sua claridão
Antes que tudo, se faça clarão
...antes até, de sua pouca luz abrolhando
Sentir em mim o sereno fresco, serenando
Tudo,
Bem antes do dia intimar o sol, pra nascer!
Escondido, ver o espreguiçar
De um lindo passarinho!
No seu santo silêncio barulhento e festivo
Ouvindo no raiar, o despertar da aurora
Ao vivo, cheio de cores
Nesse despedir-se de madrugada;
Tácito, bem quietinho, à beira de uma estrada
Vendo-o ‘nda em seu casulo,
Na galhada, no amanhecer!
Rasgando a mata,
Ver cintilar um raio bem fraquinho
O primeiro, arrastando feixes de outros milhões
E pelo 'Mister Divino',
O impelir para o dia, vire luz
Acelerando em alaridos, o resto da bicharada
...ali sem abrir mão, fincados pés na mesma estrada
Com sorte e se merecedor,
A tempo de ver a lua cansada, se esconder!
Nesse exato espaço de tempo
No momento, que madrugada foi-se, bem devagarinho!
E um dia, novo, manso, claro e pré aquecido
Para logo, estrear e entrar em campo
Trazendo agora, não só todos seus pássaros,
Aves e animais e mais sua razão de ser,
De não apenas clarear, destilar seus ‘sais
Vindo junto e não tem jeito,
Os sonhos, as doces ilusões, as decepções
E as dores, certas, e intransferíveis do “ser”!