[A Poética das Águas: Sem Entender]
[O pensamento, diz o grego, é um passeio do espírito...]
Se penso em certas tramas do tempo,
algumas profundezas me espantam;
atônito, sem nada sem entender,
eu pergunto:
por que, por que,
num rasgo de escuro ímpeto,
maquiar um cadáver?
Caronte nem exige tanto,
requer apenas um óbolo...
Em tempo: como se sabe,
sem Caronte e sua barca,
não há o inferno...
Mas pior: por que, indago ainda,
maquiar [o cádaver] do Passado?
se o vinco dos nossos erros
jamais será apagado?
A vida futura nos pede passagem,
ao Passado, paguemos apenas e tão-somente
o óbolo devido, nem mais, nem menos!
[A conexão entre ideias nem sempre é fácil...]
[Penas do Desterro, 29 de novembro de 2007]