Ainda sinto

É morbidez ter medo de perder o que já não nos pertence e atar os ténis para correr atrás de quem deixamos para trás?

Alguém que abandonei no primeiro percalço, após tropeçar em pedras duras, num terreno infértil e descalço, onde não deveria enterrar as pisadas do andar. Fui levado para o outro lado.

Deixei molhar o terreno da oportunidade de retorno, não estava em mim, precisava espairecer, para fugir e me afastar das más lembranças, as notícias que matam, esquecer o que passou, colorir de novo o meu corpo, com afectos renovados, recriados sem emoção, mas com a certeza de aluir a construção da depressão, conversar continuamente, recontar a história ou inventar completamente outra vida, outra memória.

Ainda sinto, sim, vontade de ser feliz, e não me engano na afirmação, não deveria querer morrer, mas aqui a indiferença é gritante, dessas pessoas por aí, não querem ouvir, querem lá saber!

Já o tentei com insistência, vi sorrisos aliciantes e neles transparência, uma abertura para me refazer e reencarnar na inocência de outrora a vontade de crescer, quando estar apaixonado era como ganhar na loteria ou tocar peles diferentes e apreciar os seus tons, partilhar com vários ouvidos quase os mesmos sons, sem se dar conta do prejuízo que se desenha nessa fuga.

Mas agora que estou aqui, lembro-me de ti, que por detrás de cada cheiro diferente tentava rebuscar o teu. Já lânguido no final dos tempos, só quero a ressurreição dos teus lábios nos meus beijos com a mais completa inserção.

É parvoíce dizer que me arrependo agora, talvez, quem sabe, mas essa multidão de quereres é violenta e a mente invade, no dormir, no acordar, mesmo não sendo isso mais vida, aperta-me o coração e quanto mais tento o esquecimento maior é a sublevação desses sentires.

Detesto incomodar com esse assunto, sei que não me podes ouvir, é hora de eu partir de vez. Mas como fazê-lo se ainda posso olhar para ti, mesmo te sentindo tão distante?

Talvez, mais uma vez, como na discussão daquela noite, precise de ouvir que nada mais valho, para eu me decidir.

Enfim, já me esqueci de como é fingir e dizer que sinto muito por tudo, porque agora sinto, porém sinto mais por não ter sentido muito antes que a aspereza do meu desaparecimento foi cruel.

Além de não se entender, nada justifica esse evento e o tempo passa, eu aqui sozinho, alvejado pelo mau gosto desse acidente terrível, e que ainda me assombra, o imortal espectro no mundo dos não vivos que nos meus sonhos espirituais põe o teu fascínio a arder. Uma febre do que era nosso aquece o peito fantasma, tentando tudo reaver.

Malembe, malembe, mas não consigo ficar calmo. Só queria poder voltar, mono ya nzole, porque ainda te amo.

Widralino
Enviado por Widralino em 27/07/2022
Código do texto: T7569097
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