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E agora

Que o dia nasceu

Saio às ruas

E vejo

Tristes e sonolentos e sorumbáticos

Homens de bem

Homens produtores

Homens de família

Homens e seus carros velozes e caros

Nas ruas

Sujas e feias

Outros homens

Tristes e miseráveis

Sem vida e cheios de vícios

Que vivem o dia na certeza

Que nada vai mudar

Porque homens de bem

Oriundos das mais belas e seculares famílias

Gente de bem, convencionou-se assim dizer

São homens felizes e sorridentes

E nas ruas e avenidas

Esburacadas e feias

Outros homens

Herdeiros das insolúveis, porque seculares, misérias

Sabem eles, desde o ventre, porque secular,

Que nada haverá de acontecer

Estão condenados

Estão associados

Às correntes, porque seculares

E agora

Que o dia nasceu

O que resta?