A CIDADE DE PEDRA

A CIDADE DE PEDRA

Depois de muito caminhar cheguei na entrada dela

Sem ornamentos ou letreiros, só o uivo do vento a anunciava

Nada era mais eloquente como apresentação...

Meus joelhos doíam e minhas costas arqueavam

Foi uma longa peregrinação por planícies das mais verdes e também desertos sem fim

Atravessei rios de margens distantes com peixes maiores que eu e lutei como um tártaro por um punhado de carne

Agora terei meu descanso entre os antigos na cidade eterna

Caberei em suas casas sólidas e protetoras

Viverei como um pároco no interior dos seus muros paternais e pregarei para os convertidos numa missa solene e imutável

Sentirei o doce sabor das verdades inquestionáveis que só seus habitantes conhecem e comungam

Farei parte da arquitetura mais bela já erigida e meu semblante também estará fixado na paisagem por aeons longínquos

Cada irmão e irmã residente me dá boas-vindas no mais sonoro silêncio e meu agradecimento é uma reverência

Revejo alguns rostos saudosos, e outros que no passado me causavam náusea agora me parecem plácidos

Sei que viverei enfim a pura democracia e enfim a verdadeira liberdade...

No espaço onde se dissolvem os conflitos e se dispersam as mágoas entre as rochas verticais e as colunas das edificações comuns à todos

Sob as quais dançaremos celebrando o astro-rei e a senhora das marés

Sem volúpia ou febre, sem mais cansaço ou desespero

Gentis, resignados e serenos nos jardins da imensa cidade de pedra que acolhe à todos hora mais hora menos.

(Dedicado ao mestre maior Edgar Allan Poe)

Caio Braga
Enviado por Caio Braga em 25/07/2022
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