Chamado mordaz
Do cume, do ápice da lancinante dor
pontas soltas espalhadas pelo caminho
num tempo sem misericórdia
Impiedoso, ditoso tempo
Que rouba teus sonhos
Deflagrando tuas histórias
Reduzindo ao pó, a nada,
...tua incansável trajetória
Paira em teu íntimo o ínfimo do que era pleno
estes que lhe cortam a face
Sobrou-lhe nada além de fragmentos
Sangram-lhe a alma sem piedade
Deste sentir, presa neste epicentro
Inundam num mar salgado teu interior,
...tremem tuas carnes num único intento
transbordando silente todo esse amargor
Vil tempo, que brinca, ironiza, consome
Moendo, massacrando, nos segregando
No terror de noites e noites insones
No afã de encontrar algum amparo
Alimentando-se do próprio veneno
Que saibam os cães, e seus incautos
Nasceste pronta ao enfrentamento
Do nada que se tornou, teus farrapos
Sobras, cortantes, gritante silêncio
De tudo que teve e se acabou
Corroendo-se até às vísceras
Em suas trevas, demonizando vazios
Nasceste simplesmente Maria
Mastigando aço horas a fio
Rasgou-se ao léu suas pétalas
Do vil tempo que tudo de belo nos toma
Engasgada em sua própria tragédia
Sai pra guerra, quebra a redoma
Marias, mulheres renascem das mazelas
Num mundo que não cabem princesas
Tempo vil que forja-nos a paz
Forçosamente nos fazem guerreiras
Um chamado mordaz!
Tira-nos o riso,
mas nos impede de chorar
Promovendo belicoso martírio
Nada mais resta, senão o enfrentar
Maria Mística, Heterônimo de
Andreia O. Marques