Réquiem a João de Barro

Esse tem nome de pessoa,

Dá inveja sua altivez,

Talvez seja o único pássaro assim chamado.

Desde pequeno ficava observando seu trabalho,

Carregando barro naquele bico pequeno.

Sua casa de alvenaria da melhor qualidade,

Barro misturado com esterco e palha,

Suporta chuva e vendaval.

Tudo para guardar a ninhada que ali nascerá.

Mas essa mansão atrai invasores preguiçosos,

Que não constroem ninhos e vivem à espreita.

Se o João der bobeira, sua casa será tomada,

Sua terra será invadida.

Dizem que outros pássaros se aproveitam dessa mansão,

E ali colocam seus ovinhos,

E a pobre mulher do João chocará não apenas seus ovos,

E terá também que alimentar outros filhotes ao nascer.

Mas o João nunca desiste de sua engenharia.

Representa muito bem o homem do campo,

O pouco que tinha lhe foi tomado.

João de Barro é a grande metáfora social.

As matas queimadas expulsam os Joões e os Josés,

Até a pobre coruja teve que cavar a terra

E ali fazer seu ninho e ser chamada de buraqueira.

A vida se transformou com tantos Joões,

Tantos barraqueiros com cheiro de pólvora no ar,

Aquela paz no barro derreteu-se no calor,

Somente fumaça nas alturas

Aquelas casas de barro tornaram-se sepulturas.

 

Edebrande Cavalieri
Enviado por Edebrande Cavalieri em 21/07/2022
Reeditado em 21/07/2022
Código do texto: T7564948
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