NÃO JOGUE FORA!
"Não jogue fora!" — por motivo desconhecido, grita a memória inconsciente. É a nossa essência pedindo para ficar...
Todo rabisco provido de emoção se refaz como retrato guardado na estante: é quando, por algum motivo, olhamos para ele, todo empoeirado no cantinho escondido da despensa, ou na caixinha de lembranças amarelada que fica guardada e esquecida debaixo da cama. Um desenho que floresce na memória, sobretudo quando ele possui traços de mãos-dadas de alguém que amamos ou que passou por nós com apreço.
Nada mais belo que a simbologia de um papel amarelado, desgastado pelo tempo, mas recheado de lembranças, memória encolhida na timidez do "Não vou mostrar a ninguém" e do "Sabe lá o que vão pensar dessas baboseiras que escrevi"...
Pois a preocupação do "não-escritor" é exatamente a de não se mostrar. Por ser amador, ele gosta mesmo é de se esconder...
Mas essa história acaba aqui!...
(GONDIM, Kélisson. Prefácio. GONDIM, Kélisson (Org.).
In: Vozes Perdidas no Tempo. Brodowski: Palavra é arte, 2020, p. 3)