DAS IGNORADAS NOTORIEDADES

O sorriso esperançoso percorre-lhe a face desinteressada, faz-lhe cócegas por dentro dos olhos também indiferentes, esforça-se em ser-lhe notório por entre as futilidades do cotidiano, mas suas vãs tentativas de encenar um lindo e singelo espetáculo despencam do céu de uma boca calada. Por entre os dentes e a língua há o eco das palavras prementes, nunca ditas e tampouco engolidas. Elas continuam ali, atadas às paredes úmidas e vivas de um ser que as mantém reclusas pois, sabe que uma vez libertas, elas jamais voltam a tomar sua antiga forma nem podem percorrer despercebidas por alheias paisagens.

Entre a inquietação do sorriso invisível e o fervor das frases contidas, há o sal das lágrimas represadas por anos. E queima na garganta feito o despeito de algo que não teve a justa notoriedade.

Tudo o que sua boca retém contaria uma história tão diversa daquela à qual o mundo finge conhecer. Porque em verdade, há indiferença em tudo e todos – em alguns mais que em outros. Até mesmo um beijo pode ser apático e apenas tentar aplacar a sede de quando o desejo não lhe parecia frio e reticente.

Na ruga talhada em sua testa está gravado o verdadeiro sorriso. Porém, este ninguém viu por parecer enfado. Nas linhas ao lado dos lábios, permanece fixado o desgosto real. Este tampouco será notado pois, normalmente, o mundo não quer pensar naquilo que o confunde e é difícil entender – há tanta dor que plange enquanto gargalha em perfeita encenação.

Nem tudo é como pensamos: em certas ocasiões esperamos que as ações sejam mais profundas do que de fato são e não notamos a presença rasa do óbvio.

Quantos refrões possivelmente cantaremos sem jamais os compreendermos! A música, rápida e simultaneamente vibra, apesar de nem sempre ser ouvida de fato.