O ÉBRIO
Permitiu-se arder em cada gole de esperança sorvido em ritmos alternados. Engoliu cada gota como se em cada trago houvesse uma dose de complacência. Lambeu o copo em resposta à sede torturante de vagar a esmo em um deserto repleto de fantasmas criados pelo seu medo da solidão. Percorreu durante horas o absurdo campo das ideias mudas e entendeu que no mais profundo silêncio todos os pensamentos possuem voz. Deitou sobre o tapete aveludado da coragem e brincou com a liberdade sem se importar com julgamentos. Galopou sobre o velho cavalo da rebeldia e sentiu a ousadia da brisa molhar o seu sorriso desperto. Depois rolou pelos barrancos da sobriedade como quem cai de um cavalo selvagem que desaparece. Vomitou a felicidade e tornou ao insípido gris de um novo dia.