Velhos amigos
Nós e centenas de outros antes nós, deixamos o mesmo porto antes do sol nascer e rio acima navegamos.
A via Anhanguera era o rio negro de pedra, que ligava São Paulo à Santa Rita, nossa pequena cidade.
Entradas e bandeiras, ao contrario, partimos para uma outra espécie de floresta, em busca de outro tipo de garimpo, com um outro tipo de sonho dourado, mas a mesma febre nos movia: Juventude e fé.
São Paulo, pelo ar ou pelo mar nos levaria para o mundo, para a implacável realidade da luta pela sobrevivência, das nossas carreiras profissionais.
Santa Rita, seria o porto seguro para onde nossos barcos sempre voltariam para o reparo dos cascos e das velas. Seria lá onde reataríamos os nós, curaríamos as feridas, encontraríamos colo. Os jóvens que éramos prometeram, ainda que silenciosamente, ser amigos para sempre. O rio do tempo encontrou o mar e outros barcos maiores nos levaram a diferentes destinos e nos perdemos pelos caminhos.
Em novos meios, procurei muitas vezes em vão aquele companheirismo, a mesma lealdade. Algumas vezes me pareceu, que quando crescemos, deixamos lá atrás, na infância, nossa capacidade de fazer sinceras amizades. Nos tornamos competitivos, desconfiados e solitários. O outro, o possível amigo, se torna um concorrente ou apenas um meio para facilitar a realização dos nossos propósitos. Na verdade aprendemos a ser exageradamente frios e pragmáticos.
Precisamos encontrar o fio dos valores perdidos, antes que seja tarde.
Precisamos voltar ao porto de origem. Reparar os cascos, remendar as velas e reencontrar os velhos amigos para celebrarmos a beleza das sinceras amizades.