Era mesmo solidão
Era tanta solidão que se podia tocar o silêncio com as pontas dos dedos. E o olhar conseguia algemar o vazio pelas distâncias que trazia na transparência das lágrimas.
A tarde lá fora escorria pelos cantos do céu e desmaiava no limiar dos horizontes. Estrelas primeiras a socorriam com brilhos frágeis ainda, levando-a para o álveo da noite. Mas acho que de saudades não se curava.
Na sala, a leveza da poeira assentando, parecia pedir licença com juras de fazer companhia. Amareleciam de ausências todas as poesias nos livros abertos deixados num canto do sofá. Somente as entrelinhas permaneciam líricas e gritantes nas mais vastas pretensões.
Até o perfume da flor se fazia ouvido, quando de securas e em despedida caía lentamente das pétalas pendidas no vaso sobre a mesa.
Era mesmo solidão, dessas que escravizam e martirizam sorrisos nos calabouços que a alma tem, bem mesmo ao lado de seus edens, somente para fazerem as dores serem maiores.
... E lá fora o tempo segue com suas mãos calejadas, pegando a enxada das horas, carpindo os dias e noites sucessivamente, onde as plantações vicejam e se deixam colher... E nos restolhos ficam as lembranças e as tulhas cheias de lamentações.