MEUS PORÕES

Nas madrugadas que procurava deuses na face das luas

E batizou estrelas por nomes santo

Por que assim nunca estaria só no mundo escuro

Nas manhãs o sol te queimava os olhos, cegando teus próximos passos

E todas as tardes tempestuosas que a dor podia rolar em seu rosto, porque a chuva te cobria a vergonha da fragilidade

Tinha as mãos marcadas pelo trabalho que não te comprava o pão, mas a dignidade,

As vezes na desesperança de um tempo que os sonhos só cabiam mesmo no papel

Esmurrava portas que nunca se abriram

Teu corpo não descansava, mas desabava exausto em ruas que a marquise dos edifícios te serviam de lar

Só encontrou abrigo na sarjeta da vida, onde a semelhança do abandono te fez pertencer enfim a alguma tribo

Sentia nos pés o solo vivo e ainda vibrante

Onde o disco de fé apertava o chão entre os dedos

Imprimia então a digital de teus pés

E invocava tua gente que um dia dançaram neste mesmo quintal

Nunca a hostilidade corrompeu tua fé, nem toda sujeira que a vida não podia limpar

Ousou tocar o véu alvo de tua alma

Esta permaneceu íntegra e tuas mãos limpas,

Nenhuma de tuas verdades se perderam nem diante da realidade crua e nua de um povo vendido por preço barato

Uma parte tua

A que chamamos de essência

A chama ascesa pelo criador em tempos antigos

Esta se manteve limpa no teu lado avesso

Mas essa parte dentro do peito

Onde pulsa a vida

Os teus porões ninguém desejou conhecer

Thaís Mendes
Enviado por Thaís Mendes em 27/06/2022
Reeditado em 27/06/2022
Código do texto: T7546869
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