MENINICES MINEIRAS
No interior do meu interior recordo: era um corguinho, miudinho, rasinho, mas perene. Veredinha nos fundos das terras onde nasci e me criei. Mais para baixo tinha um poço que eu vislumbrava enorme, lar dos bagres, caras e lambaris. Agora adulto também o acho pequeno.
Preparava minha trainha, varinha de bambu, fieira com corda de tira de couro, embornal com matula e o inseparável facão que ganhei de meu avô.
Fui ao barranco branco da grotinha escavar minhocas mansas, dessas compridas, lerdas, peguei quatro e num saquinho, quirela para cevar.
Anzol musquitinho, pois lambaris eram pequenos — raros os de rabo vermelho grandes — linha 0,20 fininha, chumbadica. Tinha uns maiores e linha mais parruda para os caras e bagres. Quando fisgava cágado ou traíras, perdia tudo... enrosco também eram uma chatice. Eu tinha tão pouquinha traia, que um anzol perdido podia antecipar a volta...
Tinha que sair escondido de meu irmão, o que era missão quase impossível, pois aquele moleque não parava de falar e andar na beira do poço, espantava os peixes; afora os gritos de alegria quando eu pegava um grande, quando ele pegava saia correndo pela trilha para mostrar para mamãe, era uma alegria só.
Evoco que a convivência com os mosquitos e pernilongos era bem desagradável, colocava fogo em folhas e bosta de vaca seca para fazer fumaça; eu só andava de calção, tinha a pele queimada de sol e as canelas com macuco, carranha, meio encardidas, escamadas de arte, terra e riscos de espinhos; minha mãe nos lavava com caco de telha e sabão de cinza, antes de tomar leite com farinha para dormir.
Hoje me deu vontade pescar coisas da alma, com iscas de saudade; fisguei essa história que narra pedaços ternos de minha meninice — fiz pesca esportiva — soltei de volta, pois, minha alma seria incompleta se retirasse esses momentos tão álacres de meu alicerce.
Saudade quanto maior: melhor foi!!!