Nos embalos da viagem

É preciso divagar, devagar

É honroso amar o amar

É direito evitar o evitado

É humano provocar o provocado

Mas é acima de tudo engenhoso o pensar, o acreditar no impossível, pra se descobrir que o improvável é algo que ainda se pode alcançar.

Os risos e suas sátiras, a dúvida plantada por quem amamos, o desejo de tantos que não conseguíssemos, a descoberta dos segredos mais bem guardados, a chegada ao lugar de poucos...

Nada se dá ao acaso...

As indisciplinas infantis, a insegurança juvenil, a inconsequência da mocidade, o início incerto da vida adulta, o falso testemunho pelo qual passamos, os verdadeiros testemunhos de nossos momentos mais insanos, a proximidade dos 30 anos, que nos levam para os temíveis 40! A ideia precoce de que 40 é muito, sendo desconstruída pela vontade de fazer uma festa de meio século.

Tudo isso nos faz saber que sonhar é possível e que a fé só faz mais sentido a cada ano, pois neles nos aproximamos da volta para onde não sabemos, como não soubemos desde chegar até o regresso.

Quem acredita que falte sentido ao acaso, vibra numa certeza que não consegue deixar, ainda que possa, pois percebe que pensar só é possível porque nos foi permitido.

Estar num planetinha unicamente porque nasceu, como não fosse isso um desembarque para uma nova estação na ferrovia do Cosmos, é por demais inconsistente. Estamos, nós, na distância perfeita do Sol, sem torrar, nem congelar, numa órbita constante, seguros no espaço. Enfrentaremos a morte, sim, mas já fizemos algo semelhante ao nascer, o que talvez explique porquê cheguemos chorando.

Deixamos algo muito valioso para uma experiência cheia de respostas no além...

Então, vamos divagar, devagar, para enfatizar as perguntas que fizemos tão logo se achou devido...

Vamos amar o amar, para tentar merecer o imerecido direito de fazer parte de um universo sem fim...

Evitar o evitado, para usufruir do que se espera da liberdade que temos...

Vamos provocar o provocado por Deus quando sugere que tudo podemos.