A intenção não soube.
O desconhecimento salvou-me do ridículo.
Não que o ridículo não faça parte da minha humanidade, mas daquela finalidade tão sem propósito escapei.
Muito provavelmente pelo meu leite que não foi derramado, mas que alimentou vidas certeiras e complexas.
Fez-me ao menos um mínimo acima do pior que me ocupar com banalidades.
Trivialidades impediram-me de um ar rarefeito, de uma condensação massificante, proporcionando-me construir castelos arenosos, chupando picolés com altos teores de questionamentos, que se me pareceram pueris, hoje por certo, considero profunda filosofia.
Foi exatamente os movimentos dos ponteiros que me chamaram a razão, que sem que me desse conta, retirou-me daquele navio fantasma pronto a desaparecer na próxima milha.
Não me atraíram vozes interrompidas e nem alardes por causa de um nada tão caprichoso que se parecia com um muito ostentável.
Ainda que o brilho ilusório continue por lá, tentando sofregamente embaciar minha visão, aquela opacidade cruel e leal da rotina sem graça, abre meu campo visual de tal forma que me ficou sendo impossível ignorar vozes claras e mãos nítidas.
Se triste ou muito alegre é o tal fato, se causa fome ou sacia daquela qualidade de satisfação que desconheço e que jamais saberei, foi porque perdi a passagem da miséria com a mesma sorte daquele que perdeu o embarque mortal. Sem saber, não fiquei na plataforma como suicida que perdeu sua grande chance; minha elaborada confusão diária deu graças por mero acaso.
Realmente não foi por sabedoria, nem por sorte que me salvei da estupidez mais que necessária; foi a preguiça de tecer teias com poderes de armadilhas... Detesto insetos, se sou carnívora é por acreditar piamente que certas cores me dão um azar dispensável, totalmente dispensável.
A cada um a sua superstição e esta é inquestionável.