Felicidades artificiais?!...

Lembro-me que muitos e muitos anos atrás, no trajeto de minha casa até minha então quase endeusada empresa Robert Bosch, na Cidade Industrial de Curitiba... Apertando um tantinho mais os olhos através das vaporizadas e embaçadas janelas do ônibus da Linha do Trabalhador, e não é que dava-me gosto mesmo ver aquelas branquíssimas e misteriosamente atrativas residências de alto padrão, no alto das pequeninas e então quase desertas colinas?!...

Então, do mais íntimo daquela minha honesta pobreza financeira, eu ali naquele coletivo superlotado punha-me a imaginar quantas e quantas pessoinhas alegres estariam ali convivendo juntinhas, juntinhas, e lindamente felizes!

Tal provável feliz circunstância quase certamente também poderia ocorrer com qualquer um de nós daqui... (eu ali no ônibus quase inocentemente pensava com meus lustradíssimos botões da gandola) ...Isso, embora também naturalmente depois de bastante tempo e muito dinheiro aplicado até ao final de sonhadas, planejadas e requintadamente executadas construções ou reformas residenciais. Quando então, gratificantemente, todos nós, estes humildes mas sempre e sempre entusiasmados metalúrgicos do setor de injeção diesel mui por certo quase ejacularíamos de êxtase e contentamento diante das profundas e belíssimas mudanças alcançadas em nosso ambiente doméstico... E a partir de então, todos nós também assim pareceríamos vivendo num verdadeiro jardim florido. Por que não?!...

Atualizando tempo e acinzentadas ou multicoloridas realidades pessoais, sabem aquelas elegantes e charmosas residências que, vistas de longe, bem longe, até as confundimos com um pedacinho de paraíso, tão lindas e acolhedoras se nos parecem?...

Pois é... Quando vistas de longe, bem longe!... Pois quando observadas de perto, bem pertinho, e quase certamente ali também poderia imperar a dura e grotescamente acinzentada realidade nacional dos cidadãos comuns, estes que não somos nem poderosos nem marginais, mas "apenas" pacíficos e ordeiros e produtivos trabalhadores ( Será que ainda posso utilizar tais expressões sem receio do STF lançar mão de mais uma politizada "cortina de fumaça" contra mim, este pobre e por certo também patrulhado cidadãozinho comum?), pois tais privilegiados familiares, tomara isso não, mas quase por certo, se assim já lhes ocorria, seguiriam ainda padecendo sob acachapante, egoísta e escravizante mesmice, isso que tanto deprime, afasta e isola as pessoas, enquanto desarticula as relações pessoais e familiares de todos que diuturnamente não se dediquem a praticar a amorosa e ultranecessária comunicação familiar.

Aliás, e não é justamente ali, na fase final das obras mal planejadas, que melhor podemos observar a profunda sabedoria agregada àquele ditado popular, que afirma que logo após os desajuizado$ aperto$ financeiros, logo, logo virão, galopantes e certeiros, os mais terríveis e desagregadores desacertos familiares?...

Assim podemos deduzir que nem sempre as belas e atraentes aparências físicas e prediais refletem o que lhes vai pelo íntimo e ou pelos aparentemente atrativos interiores, nessas moderníssimas fortalezas urbanas, que tanto as vemos pelaí.

Tenho o dito por dito...

Armeniz Müller.

...Oarrazoadorpoético.