O réquiem
A vida é um canto inolvidável, um som inexprimível de angústia e de expressões em gritos de felicidade. A angústia assola o ser por o ser e nisto tudo em que conceituam morrem para uma vida que não sua. Internamente eterno na ânsia de fazer-se isto tudo, como o aquele que nada vos diz faz disso o algo que é ele, onde tudo conceitua-se em torno de um vazio inexprimível. A morte do homem, o dom da vida e o entre os extremos tendendo; desconhecidos. É onde estamos, na linha tênue entre a loucura e a sanidade, na linha tênue entre o dizer e o comunicar-se. Falo a mando do meu daemon, faço por em tudo ser e o Ser em que tudo faz-se-me, eu em tudo também faço-o. Eu sou tudo aquilo que não tem nome e por não ter ainda é. Eu sou o que precede toda existência e essência por termo não ter. A conceituação que tomo posse é a da existência de em tudo dizer e nada falar. O a priori que me consome é o a posteriori de um vazio sem nome. O desconhecido a caminhar e a caminhar-me é o retorno de um ser sem nome e código. Apenas a geometria abstrata de um intuir inútil, é assim como eu e partilha assim como tudo, a angústia de nada entender nisto tudo. A vida nos faz estar disposto em um espaço aquém e além do vazio, a parte de toda significação do signo audível, a parte de toda mão a pôr-se em sinapses. Sou como os versos inaudíveis de Alberto Caeiro por sua musicalidade ser o que denominamos "interna"; íntima sentida, sensação intuída de algo saber. Sou também os gruídos de uma alma a exprimir-se do Manoel de Barros, o som posto antes do ouvir e o ouvir antes do som. Sou também a inspiração toda sentida de uma orquestra e o coro celestial dos caídos. Sou também a ópera de um morto e um morto em putrefação; um ideal filosófico, e um real a parte de toda filosofia. Há em mim mil filosofias sem nome e mil nomes sem filosofia e quais delas irei desfazer-se de si, do seu estado inicial, eu não sei, mas ouso dizer-te que por em tudo viver morto é que componho vivo um réquiem.