EU SOU MULHER, EU NÃO POSSO ENTENDER.

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          Essa é uma história de uma mulher. Uma mulher sem nome e que por isso mesmo tem o nome de todas que sofreram injustamente por amar. Eu não tenho nome, mas posso me chama de Maria, de Mary ou de Marrie. Posso ser a Madame Cléo ou a dona Clemente. A E-girl Vick ou simplesmente a Vivi do 3º ano. E se elas se encontrarem na minha história com certeza talvez ganhem até um novo nome.

 

          Te encontrei numa festa como qualquer outra. Muita gente vinda de tantas partes, procurando uma outra parte sua. E ali estava eu. Bela para maioria, cobiçada por muitos e por pouco compreendida por todos. E por isso eu era super tímida. Sabia dos riscos de ser cobiçada e não amada. EU SOU MULHER, EU POSSO ENTENDER.

 

          Mas você apareceu. Parecia diferente de todos que conheci. Todos parecem é verdade. Mas você era ousado e comunicativo se dizendo reservado e tímido. Parecia me entender tão bem, me deixar a vontade. E mesmo assim eu ainda estava na defensiva. Foi quando você disse:

          - Você é especial para mim.

          Especial. A palavra mágica que abre o coração de qualquer mulher. E resolvi me entregar a você.

 

          A saída daquela festa foi a entrada de uma vida juntos. Entregamos todos os nossos segredos e sonhos, nossas alegrias e tristezas. Tudo! Ou talvez só eu tenha entregue. Mas isso foi uma questão que eu deixei de lado. Quem é mulher pode entender.

 

          Dediquei toda minha a vida a esse amor. Fiz de você alguém mais importante que eu mesma. Te apoiei em teus sonhos entregando tudo que eu tinha. Com carinho e dedicação me anulei pensando está me edificando.

Mas só você crescia. E eu só crescia por dentro com a minha fé em você. Eu via o mundo te aplaudir e enquanto o meu desaparecia. Mas não me importava. Meu novo mundo era você. Teu sucesso era produto de nosso amor. Pois sou mulher, isso eu posso entender.

 

          Mas tempo foi passando e veio a rotina, e da rotina o seu cansaço, e do seu cansaço o seu silêncio para o meu carinho que nunca se cansava de você.

          E eu perguntei: “Meu bem, o que está acontecendo? Eu sou sua mulher, eu posso entender”

          Você disse:

          - Nada.

 

          E o “nada” se repetiu. Meu universo estava prostrado ali - para te acolher - e tudo que eu via era o frio e o vazio de um espaço distante.

          Mesmo assim eu aguentei. Talvez fosse um problema no negócio, na família, no clube de tiro na conjunção dos astros. Eu não sabia. Sabia apenas que eu me sentia uma estrela cadente. Mas, mesmo assim, eu era uma mulher, eu deveria TENTAR compreender.

 

          Até que veio aquele dia. Ah aquele dia incompreensível!

          Era tarde da noite, já estava aflita com a chuva e esperando você passar pela porta. E você finalmente passou, todo amarrotado e molhado como se encarnado por um furacão.

          Eu aflita foi até você e perguntei:

          - Amor, o que aconteceu?

          Você nada respondeu, mas seus olhos gritavam comigo. Eu me assustei. Afinal, eu sou uma mulher, vocês que está de fora podem entender?

 

          Me aproximei amável até você. E, contra aquele silêncio, tentei falar com o carinho de minhas mãos.

          Então sua boca, incendiada pelo álcool, se juntou ao grito de seus olhos:

          - Me deixa em paz!!!

          E eu nada respondi! Apenas me calei dócil esperando o cataclismo que viria:

          - Você me sufoca sabia? Não suporto todo esse seu carinho pegajoso. Você não me deixa ser um homem de verdade. Será que você – MULHER – não consegue entender?

 

          Eu estava arrasada. Um oceano pacífico saia pelos meus olhos regando a rosa sem espinho que era eu. Um rosa tentando sustentar uma árvore sem frutos. O nosso amor!

          Sua raiva descuidada deixou o celular cair. Eu vi uma mensagem de uma mulher:

          - Foi procurar sua muleta?

          Eu confusa perguntei:

          - Quem é?

          Você respondeu:

          - É a gerente de venda. Perguntou por uma mercadoria que tenho.

          Mas veio outra mensagem:

          - Se diverte comigo, mas não quer a verdade. Vai procura a muleta sentimental de sua esposa. Você é um fracassado. E isso, qualquer mulher, consegue entender.

 

          Estava óbvia a traição. Mesmo assim eu não era qualquer mulher, muito menos uma mulher qualquer. Eu era a sua mulher. Eu te amava.

          E perguntei:

          - Por que? Por que?

          Você girava de um canto para o outro com seu furacão manifestado e não estava disposto a ver que: "Como mulher eu ainda estava tentando te entender."

          E eu continuava perguntando:

          - Por que? Por que? Se foi minha culpa eu posso mudar. Por que? Por que?

          Você gritou novamente:

          - Cala a Boca!!!

 

          E depois veio o ato inefável e impensável como eu e que jamais esperaria: VOCÊ ME BATEU!

          Meu mundo havia se acabado.

          E você me bateu!

          Meu universo para sempre foi apagado.

          E você me bateu!

          Minha estrela cadente tinha se espatifado.

          E você me bateu!

          A rosa já sem espinho, perdeu suas folhas e pétalas. Era só um galho seco, mas que depois disso não serviria de muleta mais. Nunca mais.

 

          Você tão simplesmente me bateu. EU SOU MULHER, EU SOU MULHER e isso, exatamente isso, eu não consigo, eu não posso tentar entender.

          E NEM DEVO!