PRIMEIRO AMOR
No limiar, naquele instante era exatamente o final do dia e o início da noite. — Pleno verão. Eu já era rapazinho, ostentava com arrogo uns fiozinhos de barba, ralinha, más me sentia pós imberbe, empoderado.
Lembrei-me de meu tio na casa de meus avós, nos almoços de domingo, bêbado indo ao banheiro, levantava solene marcava o rumo e ia, tentava a todo custo mostrar-se sóbrio, mas os passos ensaiados e pensados mostravam que passara do ponto, difícil esconder, todos percebiam.
Tal qual meu tio, na rua da casa dela, simulava meus passos, a meu ver, assertivos, me refreava, pois, queria mesmo era correr como pré-adolescente ao estilo PK (Le Parkour), rindo alto, escancarando minha alegria, atalhando, menosprezando obstáculos, pois meu eldorado era a casa dela.
Mas hoje acho que todos notaram que eu estava querendo me portar como homem; bem pós adolescente. Pois, marquei o rumo o fui... — Que tempo bom!
Os moradores mais velhos me olhavam, paravam, se viam, e parecia darem um sorriso com sabor de saudade, se recordavam: felizes. Vi, com todas as letras, que um casal se abraçou e no silêncio do passado se acarinharam e suspiraram.
Minha roupa nova, meu cabelo — black power — calça boca de sino, barriga pré tanquinho, estava "chique no urtimo". Ela vai gostar.
A missão terrível era pedir para o pai dela permissão para namorar, ensaiei tanto... gaguejei, mas deu certo.
Saímos de mãos dadas, era inefável nossa satisfação, fomos lanchar e conversar.
Na hora marcada voltamos, primeiro abraço de despedida, olhar de pertinho, hálito, cheiro e o inesquecível selinho de até breve...
— Ela era tão bonita!
O pigarrear de seu pai, acelerou a despedida.
Voltei para minha casa, exultante, descontraído e muito feliz.
Recentemente nos encontramos, cada um com sua vida estruturada, relembramos e sorrimos de nosso primeiro momento de afinidade juvenil, foi ótimo.
A doce marca de amor no coração eu tenho e ela tem. Afeto perpétuo.