Até que passe
Vou contar as batidas do velho carrilhão da sala de estar.
Sei que depois de algum tempo, elas soarão como explosões em meus ouvidos,
porque cada uma representará sua ausência.
Vou caminhar durante a noite, como se estivesse à procura.
Não vou acender as luzes, para não constatar que será em vão.
A cama ficará arrumada, apenas a olharei à distância.
Vou ligar a televisão, preciso ouvir vozes, quaisquer que sejam.
Não me importará o que digam, apenas precisarei ouvi-las...
Vou abrir a geladeira mil vezes, e fecha-la sem em nada tocar.
Vou verificar se o telefone e a campainha da porta estão funcionando .
Vou segurar aquela foto em minhas mãos, elas estarão trêmulas.
Vou olhar meu rosto no espelho e ver que envelheço a cada minuto.
Serão assim todas as noites, por quanto tempo, não sei...
Até que o sono me vença, até que o cansaço me aniquile,
até que eu entenda, que foi melhor assim...