Olhos da Alma.
Chove.
O Solo rachado despedaça-se ao contato com as grossas gotas de chuva que fazem da paisagem mórbida um cenário impressionista, bonito de ver.
As nuvens se formam no alto da serra e escorrem, vagarosamente, eriçando o sertanejo mais jovem e comovendo o mais idoso.
E quão grato fica o povo sofrido, por aquela chuva!
Os meninos brincam nas calçadas com frascos de xampu e os homens sorridentes tomam pinga. As mulheres pousam calmas à varanda e, ora ralham com os filhos, ora sorriem dos maridos.
Os mais idosos aninhados em cobertas, deliciam-se com a paisagem, enquanto contam causos da chuva que inundou a cidade no inverno de 1988...
E naquele momento, todos olham gratos àquela santa precipitação.
Menos Maria.
Ela não pode observar a chuva.
Nascida sem recursos, na brenha de mais difícil acesso, cegara ainda bebê.
Porém entre todos ali, é ela quem mais vê! O cheiro da chuva batendo no solo seco, esturricado, lança no ar o mais doce aroma que se pode desejar.
E é nesse momento que ela mira o arco íris.
Não é necessário que haja luz em sua retina: O cheiro sagrado da chuva carrega todas as cores do mundo, na alma do sertanejo.
(Jessiely)