MEMÓRIAS DO SÓTÃO
Entre duas canastras que se encaravam varava um assoalho de tábuas largas,espiando picumãs pelos desvãos.
Nos extremos: Duas janelas.
A primeira,e mais sombria,aproximava-se do último degrau da escada. Abria-se para as laranjeiras e,inclinando-se em soleira,era possível avistar canteiros e riacho, olho d´agua e a casa do forno encolhida em mistérios de celeiro por onde,num dia chuvoso,avistara-se a silhueta de um menino.
Um enígma!
Seria um anjo?...
Sumira logo em seguida,como que evaporando-se por entre o feno umedecido e o parreiral.
Presume-se,até hoje,ter sido um caroneiro do arco iris que traçara o céu daquela tarde chorosa.
A outra,abria-se para o povoado. Trazia a luminosidade de sóis que sequer haviam chegado.Sabia-se,entretanto,iluminando colinas de trigo em paragens longínquas...Os recados , em ouro e vermelho, davam conta de que logo estaria sobre as araucárias e bateria em cheio naquela janela, assim que cruzasse o potreiro pisado de azevéns.
Imperavam sorrisos,acenos,perene alegria... Um rastro florido de "Glostora", traçando a singeleza do romper dos dias,quando aquele senhor cruzava a porteira empertigado numa elegância cabocla.
Carroça colorida , cavalos brancos...
Escapava das páginas de um livro qualquer mergulhando rumo aos eucalíptos. Restava ,sonoro,um trote cadenciado.
Em meio à troncos enfileirados,o tunel do verde abria-se num caminho buscando quase sempre o infinito.
Pela rua cheirando à café fresquinho iam, pouco a pouco e de miúdinho, pingando colonos,meninos de escola,jeeps,carriolas...
E de quando em quando,entre vassouradas,a voz estridente de alguma vizinha,rasgava no peito em breve cantoria a cortina tôsca da monotonia.