Dejavu

Me obrigue a voltar novamente pra casa.

A esquecer o erro do beijo dado, do abraço proibido.

Da conversa única, apaixonada, reveladora.

Me obrigue a virar a cara, a fingir que nada aconteceu e a seguir em frente.

Me obrigue a deixar a pele envelhecer sem sentir novamente o toque do seu perfume.

Me obrigue a voltar pra casa cheia de desejos reprimidos.

A lavar a louça, varrer a casa, a cuida das crianças.

Me obrigue a viver em união e sozinha. Me obrigue.

Mas por favor não volte quando estiver cansado, entendiado.

Não me obrigue a voltar novamente pra casa.

E fingir que nada aconteceu.

Volta pra casa e esquece o cheiro da cinza do cigarro.

Envelhece e deixa de pedir sentidos de quem não tem discursos pra te sentir.

A quem não vai te dar ombros pra te sentir.

Viva em comunhão de bens na solidão de uma cama de solteiro.

E se sobrecarregue, de trabalho, de cansaço. Pia, roupa, banheiro.

Crianças chorando, coração chorando.

Deixa o tempo pisar na tua pele e nos teus desejos.

Nasce a mãe, morre a mulher.

Se arrumando pra quem? Agora você tem um marido.

Se obrigue a voltar novamente pra casa e fingir

Que nada nunca antes aconteceu.

Mariana Montejani
Enviado por Mariana Montejani em 30/05/2022
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