Um sujeito comum

     Minhas ideias correspondem ao pensamento médio da pequena-burguesia. Raramente tenho objeções quanto ao censo comum. Acredito em Deus e sem ele não conquistaria o pouco que tenho. Não me interesso por política. Para que? Nada muda! Quero uma família bem tradicional, com uma vida de classe média e filhos alienados, sem interesse algum pela cultura e pela situação das massas. Assisto à Globo, Bandeirantes, SBT, CNN etc. Quando leio, feito raro, costumo orientar-me pelos jornais tradicionais, como: Folha de S. Paulo, Estadão, O Globo, Extra etc. Estou sempre antenado, transmitindo – inconscientemente – os interesses dos patrões. Literatura? Adoro autoajuda e best sellers indicados pelas grandes editoras. Sou educado, tenho meu diploma universitário e por isso acredito na educação. Sou a prova vida de que a educação é transformadora! Saí do nada e nada ainda sou. Todavia, tenho um salário convincente. Convenci minha esposa, minha família e meus amigos que sou um vencedor, cresci na vida. Dívidas? Todos têm. Estou bem e, acima de tudo, mantenho-me irredutível com meu nariz em pé e minha jactante incultura disfarçada de conhecimento.