Ilusões de um pequeno-burguês egoísta
O povo está passando fome! E daí? Não há emprego! E daí? Eu só penso em mim, na minha vida e nas minhas ilusões pequeno-burguesas. Partido político, para quê? Nada mudou e nada mudará! Recolho-me à minha insignificância individual para viver o gozo de uma vida pequeno-burguesa, mesmo que limitada ao meu parco rendimento. O que importa é curtir a vida! Não me interessa mudar o que está aí. Quero apenas sobreviver nesse mundo cruel! Não me interesso pela cultura, pelo vida dos oprimidos. Eles que corram atrás! Afinal – eu conquistei o meu – o deles não me interessa! Ah... Mas as eleições mudarão o mundo. Basta apertar o botão e todas as questões se resolverão. Já fiz minha parte, cumpri meu papel de cidadão. A vida segue… Eu não aprendo e, tampouco, ensino. Tudo continua como um barco à deriva. E como mero tripulante nesse mar revolto, continuo a rezar pelo fim desse sofrimento. Deveras, diante da minha incapacidade de ação, vivo a mover-me de acordo com a maré, pois a fé – mesmo que abstrata – é a única que me resta.