O barco cansado de meu coração ondulante

Hoje, vou tomar conta de meus pais. Até este momento, serei eu quem irei pra lá, já que um de meus irmãos deveria ir e ainda não chegou da casa da sogra no interior. Sinceramente, meu coração arde de tristeza, principalmente por ver meu pai acamado e minha mãe lúcida, porém, limitada, igualmente. Contudo, dentre estes dois motivos acima, nenhum me dói mais a alma do que a dor da solidão que sinto. A fragilidade bate aqui agora.

São tantos os motivos desta dor que a única vontade que tenho é a de gritar.

Grito pra dentro de mim mesmo há anos. Só sei gritar assim.

Estou cansado. Quieto. Queria um abraço! Nem que fosse o abraço do vento que Neruda tanto fala.

Mesmo com todo tesão pela vida que sinto neste momento, queria só um abraço! O aconchego do silêncio de um abraço!

Estou calado o dia todo!

Aproxima-se a hora de ir e não tenho vontade de ir. Acho que andar um pouco na areia do mar me faria bem. Faço isto depois. Em um outro momento, farei isto sozinho para que eu reze um pouco.

Peço ao Eterno que me ajude neste momento de solidão para que eu me refaça.

Alma ferida a minha. Barco a deriva... Suspirando agora!

Sim. Estou cansado.

Sim, choro um pouco agora e um sorriso leve me encanta a boca. Dois lados de uma moeda chamada saudade. Saudade de mim, igualmente. Daquilo que um dia fui, do que volto a ser aos poucos com os olhos da maturidade seca e árida da vida que me expus. Escolhas espinhosas do roseiral da vida.

Choro também por ter encontrado um porto seguro para que eu descanse e pare minhas andanças de marinheiro de outros portos: paz foi o que encontrei quando vi quem me faz feliz hoje.

Sorrio porque posso sonhar novamente e posso voltar a escrever, tocar meu violão de forma aleatória sem música alguma; apenas ressoando acordes múltiplos de harmonias outras. O piano está em minhas memórias. Quem sabe não toco Chopin novamente.

Um dia, sentirei vontade e prazer em ter um piano elétrico de 88 teclas, nem que seja para que eu chore enquanto toco acordes aleatórios, já que não lembro de nenhum prólogo que me aqueça o coração. Minha sala está vazia esperando meu piano elétrico: acordes de uma harmonia de vida que ainda não se fez.

A solidão de meus dias de trabalho árduo fizeram tanto barulho que não ouvi minha própria voz por anos. Me sinto mudo no mundo das vozes dos outros. Seco na chuva de possibilidades. Pelo menos a harmonia de teu sorriso me faz querer cantar.

Harmonia que encontro quando te vejo sorrir: imagem em 7D que guardarei em meu coração.

Você sorrindo me faz lembrar das rosas. Elas sorriem. Que tantas outras rosas se acheguem para que os dias ganhem outros significados da distante memória que me entristecia; da distante memória viva das rosas que você nunca ganhou!

Sim. Minha alegria floriu e cresceu no momento em que vi você sorrir.

Preciso ir.

Vou agora!

Sigo em paz com tantas vontades dela que todos os desejos se resumem em um só: um sorriso leve, a felicidade e um abraço!

Pelo menos foi oferecido um resgate a este velho marinheiro de outros portos que encontrou aconchego nos poucos dias de tantas esperas que os braços do mar dela me ofereceram.

Que meus dias sejam longos para que eu possa continuar agradecendo a D-us, em vida, pela existência de quem me deixou ver o sol nascer, enquanto tento atracar o barco cansado de meu coração ondulante.

Tentarei ficar bem enquanto fixo minhas cordas em teu porto seguro.

Até!

Carlos Maciel CJMaciel
Enviado por Carlos Maciel CJMaciel em 21/05/2022
Reeditado em 22/05/2022
Código do texto: T7520996
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