MARIA DA ALDEIA
MARIA DA ALDEIA
Desanda a noite pela estrada da aldeia.
Na bodega da esquina ,homens empunham copos.
Treme a lamparina e na parede de tábuas desenham-se as sombras de seus fracos desempenhos.
É um teatro de fantoches com enredo no travo das angústias, nas alegrias escassas, nas amarguras e desesperanças.
Pelos confins daquele mundo quase esquecido, tangem os sinos em compasso tão melancólico quanto o infortúnio da freguesia na bodega.
Os sinos rasgam a textura das trevas , encontram Maria debruçada à janela.
Maria da Aldeia !
Maria de poucas chances...Maria de muitos sonhos !
Na capela: Prece,fieis e louvores.
No casebre de taipa:Maria de muitos sonhos,ruminando seus dissabores.
Feito zumbi ,um bêbado vaza monólogos ao negrume da noite.
Atira passos cambaleantes ao açoite do vento, dilacera no peito a dor das suas carências.
[ Silêncio de pedra ]
A pretidão das trevas alberga-lhe as lamúrias, sem clemência.
E ele canta!...
Liberta na garganta a sua vasta solidão de lobo.
Solidária ,a confraria dos grilos tenta uma segunda voz.
Na janela...Maria.
Maria de poucas chances,libera em lágrima fria ditames do coração.
Lacram-se as portas da venda na aldeia de breu.
Que noite !...Que frio !...
Lua?...Estrelas?...Por onde andam vocês?
O céu as esqueceu?
A noite vadia espreita Maria.
Maria de poucas chances !... Quietinha, isolada , sozinha...
Maria!...Maria!...
Nada além de um perfil na janelinha, à espera de um grande amor.
Um amor que haverá de curar-lhe os tantos queixumes.
E ela sonha com seu príncipe, num cavalo branco,
rompendo no escuro , à luz dos vagalumes.
Joel Gomes Teixeira