Amor à Venda

Esta mulher que sobe a altar, solene

E faz juras de amor ao prometido...

Que não prometa tanto, mas encene.

Do covil de onde vem-ego partido...

Jaz ali sem qualquer piedade a morte

Trajada assim do que é fraco e proibido.

Só antros em que há um ser mais forte,

Devorador de carne e alma também;

Onde se vê o punhal do duro corte...

A uma imagem de Cristo diz-se: "Amém!"

O eflúvio da imundície é mal vapor

Mas que prende todos àquele harém.

Voz se ouve sem amor - rugem leões,

E morcegos voam naquele quarto...

Antigos vultos declamam maldições.

A lâmpada suspensa é algo farto:

Os dois corpos nus, sem mais vibrações...

Sem pudor, sem tesão... depois infarto...

Prendem grilhões... palavra mal se diz

Depois do quarto se paga o que dera...

E diz adeus à sua mera atriz.

Porém cada um carrega uma fera:

Aquele homem no altar, feliz

Traz consigo um demônio, não quimera...

Que a noiva é também uma meretriz.

Rogério Freitas
Enviado por Rogério Freitas em 15/05/2022
Código do texto: T7516878
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