Diário
Gravei nele minha alegria, traições, dúvidas e frustrações, acreditando na privacidade e no poder de um cadeado vagabundo, que qualquer chave do mundo adentra sem perturbação
Hoje não mais cadeado, apenas senha, mas ainda sem a sacana da privacidade, prefiro gravar códigos, apenas os mais perturbados poetas entenderiam toda a minha falta de emoção
Sendo ele mensal ou não, um fardo ele carrega, mas deveria ser carregado apenas no coração
De que adianta deixar gravado qualquer sentimento sentido, se um dia vou morrer e ser esquecido?
Não quero ser mesmo lembrado, queria ser apenas respeitado
Precisa escrever código dentro de algo que já se faz restrito, pois nele diário esta ali escrito, e mesmo assim, precisar ser escondido?
Ora quando todos querem ler o que apenas poderiam perguntar, mas ainda sim, prefere a privacidade violar
Não tenho um diário, tenho lembranças sendo substituídas todos os dias por outras que não vou querer lembrar
Não, não quero ser lembrado, tão pouco amado
Quero ser apenas mais um dentro de muitos que carregam sofrimento e triste solidão, assim como o diário, que vazio e cheio, com letras e códigos, se desmanchando no esquecimento de todos, e ficam apenas suas pequenas manchas amareladas de uma vida ingrata que nunca vê alegria, só escuridão.