No mar
A brisa do mar, esse vento que vem sem força nem fraqueza, invadindo o corpo - todo - em pleno nada vastidioso, minimizador dos homens, mas um grande redentor, ao abrir as portas para o despertar deles, atingia mais um corpo, mais um que tentava definir seus sentimentos, fazendo um desenho escultural e invisível daquele ser estático observando não um entardecer, mas sim uma lei a qual nenhum humano poderia fugir; estava ali, bem na sua vista, essa regra-maior universal. E ele tentava lidar, quem saberá responder, com o inevitável ou com si mesmo? Não é possível que presumiu ter vindo a este mundo como ser capaz de superar - ou transcender - essas etapas, não era inconsciente, muito menos idiota; o que havia, talvez, era inconformismo. A lembrança que uma onda se forma num tão-longe do oceano e cresce, rápida ou lentamente, na direção d'areia até desmanchar-se nela e dar lugar a outras, que serão, quem sabe, igualmente esquecidas, porém fato é que existirão e estarão para sempre marcadas num registro superior aos desejos terrenos. Imagine, então, o drama das ondas que sequer chegam à metade do caminho. Aquelas que esvaem-se, seja por um vento forte, vindo de frente, ou por própria incapacidade, e somem mesmo no meio das águas. Será que, no segundo final, pensam elas, com angústia, que suas colegas dirão: "Que vergonha... Sequer conseguiu fazer o que lhe era incumbido realizar... a própria obrigação de existir!". Águas que tomam velocidade e a perdem, traçam uma viagem de início e fim, apenas. Não há estrada no mar, não há linha de partida, menos ainda de chegada, mas as coisas seguem seu destino, até ter o último murmuro. Será que ele aceitará isso?