Em terra estranha

Nunca me senti parte de algum lugar

Sempre peça solta de um tabuleiro

Uma folha seca açoitada pelo vento

Sou uma estrangeira em terra hostil

Nunca soube onde estar

Vagando aqui e ali

Sem alento,

Mesmo fincada em minhas raizes

Nunca me senti ancorada em nada

Sempre essa sensação de vazio

Sempre perdida

Sem diretrizes

Nenhum lugar onde estive, onde estou,

foi...e nem nunca será meu lar

Sinto essa ânsia imensa em mudar

Peregrinar em outros lugares

Desbravar outros mares

Reconhecer velhos lagares

Mas estou presa além das paredes

Enclausurada em minha própria existência

Não sou daqui, não sou de nenhum lugar

Que culpa tenho de ter alma imensa?

Estou aqui, presa num corpo inerte

Que limita os grandes sonhos esquecidos,

... Enferrujados, dilacerados na mente.

Estou estagnada nas nervuras do tempo

Sigo estrangeira num retrocesso

Na vida

No amor, neste vasto universo

No urgir dos ventos

Sem norte, sem contentamento

A peça que não encaixa, o defeito na engrenagem

uma andarilha sem esteio, uma poesia sem rimas,

Bicho solto sem pastagem

uma carta fora do baralho

A linhagem que se extingue

Sinto-me uma estrada que não leva a nada,

Sinto em meu íntimo que todo dia será o ultimo dia, uma sensação de despedida,

que minha existência cairá no esquecimento desse mundo que nunca foi meu lar, que nunca me encantou.

Meus pensamentos giram como um circulo em seu próprio eixo sem parar

Nem mesmo o teto que me abriga, serve de consolo a minha alma inquieta

Sinto-me sufocar presa em minhas paredes, sou estrangeira em qualquer lugar, onde quer que eu vá, onde quer que esteja nunca haverá um lugar onde sinta-me em casa, não tenho pra onde ir

sou estrangeira na terra estranha do meu próprio existir,

... das entranhas do mundo, concebendo a certeza que não sou daqui.

Maria Mística

Heterônimo de Andreia O. Marques