Um infante com olhos de gigante

Ele tem olhos de gente grande. Expressivos, arredondados, gigantes como sua natureza de criança. Um olhar que nos fisga e arrebata ao menor piscar. Mas é apenas um menino, pequeno, franzino, que mal sabe o que é viver, quanto menos o que é sofrer, ainda que já conheça o verbo amar.

Ele nos amolece ao sorrir. E quando seus lábios se rasgam, os ponteiros de todos os relógios do mundo se esquecem de continuar. Não há o que contar. Não há som mais bonito que seu doce riso. E tudo nele nos atordoa. Às vezes, basta um resmungo, um suspiro profundo que nos avisa do seu despertar. Outras vezes ele grita, nos chamando à vida que está prestes a recomeçar.

Com ele todos os dias são de alegria, infinita magia, folia, farra e cantoria. Ele canta! E na música encontra amigos imaginários. Parece um canário. E todos os instrumentos lhe servem de inspiração. O preferido é o violão.

Outro dia ele dormiu nos meus braços. Preguiçoso e sem a menor cerimônia, se aconchegou em meu abraço. E mais uma vez desejei que o tempo parasse naquele momento, para eternizar as batidas do seu pequeno coração, que aos poucos se desacelerou e tranquilo ficou à espera de um belo sonho. Sonhei acordada enquanto ele dormia. Sonhei que para mim ele sorria.

Suas palavras ainda nos soam confusas. Um pouco obtusas. E sua voz é melodia, acalento da alma. E como ele me faz falta! Suas brincadeiras, peripécias faceiras, inúmeras formas de se expressar. Risca as paredes na tentativa de se fazer notar. Ri de si mesmo e adora pão de queijo, mas de todas as comidas, o tomate é fruta preferida.

Ele tem tanta vida! Cabelos castanhos, lábios rosados, dentinhos afiados à espera do próximo prato. E como ele come! E nos consome o fôlego, enquanto corre pela casa à procura de aventura. Nunca se cansa de travessura. É debochado, engraçado, e seu cabelo cheira a colo de mãe.

Um infante com olhos de gigante. Ele vai percorrer o mundo e suas pegadas nos trarão saudade. Mas por enquanto, velamos seu descanso enquanto ele dorme em paz no quarto ao lado.

@literuaitura

Para Arthur