RECADINHO
(Tributo à amizade)
“Se me esqueceres, só uma coisa, esquece-me bem devagarinho.’’ (Mário Quintana)
Às vezes, repentinamente, me dá uma imensa saudade de algum momento com alguém compartilhado. Esse sentimento pode estar cativo em uma canção, contido numa frase, sentido num perfume, relembrado num sabor, retido num gesto, expresso num olhar, recordado num sorriso ou, até mesmo, represado em uma lágrima.
Uma recordação saudosa que pode ter ficado impregnada na poeira soprada pelo vento quente de uma tarde de verão, ou nos raios de sol que brilharam numa manhã de puro esplendor. Talvez tenha se alojado no brilho prateado de uma magnífica noite de luar. É também possível que a chuva tenha levado para os rios cada uma daquelas gotículas dos momentos desfrutados e os rios as tenham depositado na imensidão dos oceanos – e, por lá, elas estejam recolhidos, inertes.
Enfim, pode ser algo que tenha ficado no pouco do muito ou no muito do pouco de um instante que agora vaga no infinito do passado.
Pode ser que você já nem se lembre de que instante foi esse. Por outro lado, também podem aflorar em suas memórias instantes comigo compartilhados, dos quais eu não consiga lembrar, talvez. Outra hipótese é que você até se lembre do fato, mas não de com quem ele se passou.
Contudo, confesso que sempre me lembrarei da amizade construída e vivida em momentos felizes porque, ao recordar, mesmo que à distância e transcorrido tanto tempo, convenço-me do como nossa amizade tem significado e do quanto deixou uma marca sólida no tempo, que só a saudade é capaz de resgatar.