Vou a uma avenida para amar
Amar eu já amei tanto, pelo lado de dentro. Amor eu já tive tanto, cerrado, nublado, do lado de dentro. Já amei em poesias e outros esconderijos, de amor feliz já vesti fantasias tantas, incabíveis fantasias e outras impossibilidades. Amar eu já amei, oculta e contra a parede, do lado de dentro. Ainda que gritando meu amar, ressoei só pelos meus quatro cantos, todo tipo de amor já cantei denso, já me envolveu escura, ajustada, do lado de dentro. Amar eu já tanto amei, em livros e tramas, em dramas e conspiração, de histórias enredada e tantas outras de ser indecifrável. Amar já amei de todas as feições e dissabores, de tantas alegrias tácitas, curtas, públicas e secretas, sem continuidade além do lado de dentro.
Eu vou à rua, eu vou a uma avenida para amar, do lado de fora. Amar amor que tenha artérias e veredas, e pinte quadros, que dê as mãos e estampe. Solto ou em casa, do lado de fora. Um amor qualquer que invente literatura, duplique-se e declare-se, do lado de fora. Um amor de suscitar parceria, defluir expressão, dispor sobressaltos e tantas outras coisas de agregar, livres. Amar eu vou, do lado de fora.