Não me diga onde irei chegar

Se a minha mente e meu coração lutam, irei aos jardins de minha existência, para encontrar a unicidade, a única que leva a vida ao seu lampejo. Porque nenhum questionamento, nenhuma filosofia são dignos do coração, são dignos da verdade. Porque nada para o que se encontre certezas e explicações é digno de crescer, nada que não exija uma morte e uma nova vida merece ser considerado. Já vivi muitos tempos em meu tempo, e já fui a muitos cenários em palavra, silêncio, revolta e serenidade. Nada pode me atingir que não seja eu mesma, nada pode se manifestar do mundo em mim, que não seja, de alguma forma, meu no mundo. Mas todas as coisas em mim podem ser do mundo. Eu simplesmente vou para onde sinto que devo ir, no momento em que meus pés forem levados. Não viveria, a partir do que agora conheço, um só dia em descanso, não quero repousar, não preciso, nenhuma batalha me cansa. Daqueles que amo, uma esfera trago em mim, e seus olhares vejo no reflexo dos meus olhos, quando me encontro com a ternura das minhas horas. Mas os amo com minhas virtudes, e com o anseio que meus defeitos têm por virtudes, amo na harmonia das nossas existências, a cada um da única forma que poderia amar. Mas a verdade de nenhum deles é a minha. A luz e a existência de nenhum deles são as minhas. Não há o que eu possa iluminar e fazer existir neles, que eles não possam antes neles próprios, e não há nada que eles possam acender ou criar em mim, sem que a chama eu mesma aviste e compreenda. Vou por um caminho em mim que é só meu, por passos que pertencem somente a meus pés. E se eu parar no meio da estrada, a olhar para os lados, não é porque me perdi, é porque conheço meu caminho e estou a observá-lo, a me assistir, para que nada se apresente em vão, para que todo detalhe a mim chegue. Não há nada que se possa acrescentar a nenhuma outra existência, sem que se conheça a sua própria, e não como a alguém algo oferecer sem que se tenha quebrado os limites da própria alma. Em todas as coisas que tenho em mim, vejo que do silêncio de tudo aquilo que não conhece expressão física, nasce a paz e o valor de todas as expressões físicas. E nesse momento, desprezo tudo o que é filosofia, qualquer limitado entendimento de qualquer dos sentimentos que sinto. E nem sequer sou esses sentimentos, porque eles vêm de mim. Tudo em mim é um ciclo que remete a mim, e tudo que cada um cria e vivencia é um ciclo permitido por cada um. E na unidade de todos nós, encontramo-nos na comunhão de todos nós. De todas as coisas que tenho em mim, algumas vi nascer e vi morrer, em seus propósitos, mas as que mais amo são aquelas que não vi nascer apenas um dia compreendi que existem, e as vejo crescer em todos os mistérios, lembrando-me da surpresa e do tamanho da vida. Mas não estou partindo em direção a elas, estou partindo em direção a o que sou nelas, por elas. E eu não quero chegar a lugar algum, quero apenas andar, em meus jardins, e me recolher à minha caminhada, que é só minha. E todas essas coisas estarão lá, e já são um sonho para mim. E não me diga onde irei chegar, nem a que conclusão chegarão minhas lutas, ou mesmo quando terei alguma redenção, eu não quero saber. A única coisa que quero saber que sempre terei algo pelo que lutar, sempre terei um coração alerta e receptivo para sentir a vida, e não me diga que não irei sofrer, porque assim não existiria. O que me leva agora é saber que nada conheço do meu destino além de que ele existe, e de que a ele chegarei, de uma forma, ou de outra. Tudo o que me leva agora é a aventura de viver, conhecer o desprendimento de nada temer, e aceitar qualquer dança que se apresentar, só quero existir, caminhar, sentir e saber que nada foi em vão. A vida sem paixão é uma morte que insiste em andar em seu corpo. Venha o que vier, minha alma se recusa a adormecer. E eu recuso qualquer coisa que não seja a vida plena.