Que Apenas Saibas
Que no sangrar e no pulsar da tua dor está o coração da paz a te alcançar, e que teu choro é tua paz chamando e te pedindo para existir.
Que nos teus trilhos desviados estão as interrupções perfeitas para que a um abismo maior não chegasses.
Que no tempo que pensas ter jogado fora está a sabedoria de que nada se constrói quando de si nada se conhece.
Que quando olhas pra trás e vês já sem fôlego quantas milhares de curvas já tiveste de fazer para chegar a lugar algum, o que há é o fato de que por causa das curvas, conheceste muito mais caminhos, e que chegar ao nada é chegar ao lugar que precede todas as possibilidades de vida.
Que quando não te reconheceres em lugar algum, ou coisa alguma, é porque já sabes quem és, e não és lugar algum ou coisa alguma que não ti mesmo.
Que quando toda a gente passa a te apontar os teus fracassos e a enumerar as tuas impossibilidades, é porque quase ninguém mais vê em ti algo que possa conceder valor, e quando perdes o valor nesse pequeno mundo nosso, é porque adquiriste valor em um mundo maior, ao qual toda insignificância aspira.
Que quando, com pouca idade, sentes que és velho, que quando, conforme envelheces só vês a imagem da criança no espelho, não é que não te reconheces como és, ou que te perdeste no tempo, é que saberás que o tempo não é o que mede teu coração, e que conhecerás uma juventude mais preciosa, quando a tua maturidade permitir-te ser inocente.
Que quando sentes todo o peso do mundo em tuas costas, mede-se mais o teu carregar e a estrutura do que te faz suportar do que a qualidade do que está a te esmagar.
Que quando a maioria pode classificar tuas ações e crenças como tolices, é porque provavelmente caíste um número incontável de vezes e te levantaste, quando outros permaneceriam no chão...