A Tolice
A Tolice é o traço dos meus dias e o chão dos meus desejos.
A minha tolice é a razão de vocês que não se esquiva de dar as mãos às emoções que a fazem sensata, mas colorido, ordenada, mas em movimento.
A minha tolice é toda essa direção : a minha reverência vai para essa mais que tanta maestria: ah, vai cada um com seus pés, cada qual crendo que se encaminha para aquela rua que a razão escolhera, vai cada um, sem estar alerta, vai na verdade para de onde foge, vai durante o dia, envolto em noite, vai com a noite seguindo a maior das claridades, vai na verdade para onde os olhos não viram, mas o coração tocou em sonhos impronunciados do espírito...
Vai, além do distante, vou ao longe dos afincos por controle, vai para o choro que se arrebenta em sorriso, vai, captura, semeia, espalha o dom de viver, vou ao passo de tempo algum a revelar ao espelho em toques de força e suavidade, vai, e pede o silêncio na alma, vai, e acalenta o amor porque ele não pode morrer, vou a atirar ao longe as impossibilidades.
Deixa, que eu já me vou, a vida que eu tenho para mim não encontra abrigos por esses muros, não encontra abrigo atrás de nenhum muro, nem pede abrigo. Eu vou, e não me peçam para parar, ou me digam que eu devo descansar, não quero minha felicidade interrompida por um relance sequer ao passado. Eu vou com tudo em mim que é intensidade, mas não se enganem, o que para vocês é se perder no mundo, para mim é se encontrar em luz...eu vou e não tenho mais a intenção de medir palavras e sentimentos, e não me digam para esperar e ver, minha natureza vai em direção a fazer para conhecer.
E o que para vocês é descuido, é erro em demasia, ah, para mim é a brisa leve do destino, é o som incomunicável da minha vontade de ser feliz. Onde mora o seu escândalo é a casa da fidelidade que tenho a quem sou, e podem entrar com distorções e desdenhos, ouvirei risos e harpas em minha plenitude. O que para vocês pode ser um alto preço a pagar, para mim é a glória da jornada.
Deixa, que o tempo não me consome, eu não desapareço pelos anos, os meses me seguem, são meus amigos, e acompanham minhas realizações. Deixa, que eu conheço minhas fraquezas, mas não sei de limitações, que não nego meus defeitos, meus erros, mas não me atenho à autopiedade alguma, e reconheço a casa do pecado na infelicidade do espírito para com o corpo, e na casa da minha percepção, fruto proibido é a hipocrisia, traição é se armar até os dentes na luta contra os próprios sentimentos.
O que para vocês são cercas que os impedem de correr pelo mundo, para mim são provocações desastradas, que não se estendem a altura que segure minhas asas. Eu não corro, eu não tenho pressa, meus caminhos são de vento e onda, e o mesmo mistério que os carrega em força e suavidade molda as circunstâncias que dos meus pés se aproximam. Eu vou pela doce surpresa de acordar um ser diferente a cada dia...