Das Músicas Bobas

Digo da covardia qualquer rua não atravessada, qualquer amor não declarado, qualquer dinheiro não bem gasto. Digo da covardia qualquer um que não se caça, aquele que não ultrapassa, aqueles que passam por si. Digo da covardia qualquer mão que não segura na mão que deseja, todo pé fincado, toda parte de si que não se satisfaz. Digo da covardia todo porre não tomado, todo grito fechado, todo buraco de consciência. Digo por covardia todo aquele que não treme de medo, que não se delibera ao desespero, que vez em vez não se atrela ao cansar. Digo por covardia tudo o que separa quando pode unir, tudo o que satura quando pode colorir, tudo o que pausa quando pode criar. Minha alma é enxarcada, meur rios correm sempre, minhas danças não são sincronizadas, meu chão é de andar, meu coração é quente e meu sangue não é só lembrança de vida. Eu sigo ouvindo, sim, das músicas as mais bobas, coragem é reconhecer-se simples graça depois de tocada em tantos épicos.