Estando sou
Estou submerso no meu ser, recluso numa ilha de nada ser, perdido, mas achado. Permaneço infiel para comigo, como uma música de um amigo que não tem nome nem endereço. Me perco em cada gesto que despeço, sou a cada momento que desprendo-me e continuo recluso na ilha esperando um dia alguém que possa vim a me salvar. Cada verso que escrevo medito e enquanto medito disperso está meu ser e encontro-me perdido; sorrio, mas a pausa sequer é de um tempo. Tudo o que pensei que poderia ser já fui, já foi e fui-me nisto tudo, como que um gato que rasga a roupa de um rei sem saber a quem é gato e rei. Sou, como que versos despejados inutilmente em uma cantiga a noite para uma moça sem nota e ritmo. Construo-me e perco-me e nisto mesmo sou, mas no enquanto entristeço-me, a batalha não cessa e o ser enquanto respira é, a certeza de não ter e ser. Não tenho nada além de mim mesmo e assumo esse ter como uma das minhas mais gloriosas conquistas. Como quase nada marcho a alla turca sem ser turco e soldado, mas marcho para o invisível e o silêncio. Marcho nesta escrita em cada palavra escrita, redundantemente elegante na repetição do pequeno fraseado, que se repete como se fosse o mesmo. O espaço a que despejo o vocábulo é o espaço do ritmo em que componho versos. Em um estado hipnótico sou como que um fluir sem peso e direção. Somente a depender do que estando está. A altura que eu irei subir ou afundar dependendo do peso do fluído que eu vier a deslocar, a depender somente do peso em que julgo estar, tendo em vista a gravidade que meu ambiente está.