Naquele ventre frio, gélido sentia arrepios na nuca, calafrios. Sem saber ao certo, se o sangue que circulava pelo cordão umbilical seria suficiente para aquecê-lo.
O amor ultrapassa as barreiras físicas, superando a epiderme a ponto de invadir os vasos sanguíneos e correr ligeiro de um coração, espalhando-se na metafórica essência que transcende o tempo, em busca da alma perdida.
O ódio, o faz do mesmo modo, com idêntico percurso. Mais violento, talvez. Rompendo as terminações nervosas que, em escala, vão reduzindo a capacidade de estabelecer laços firmes, restando a sensação de dor que retarda o parto: - Nascer para tomar o leite da mágoa, da rejeição, da sensação de peso? O leite rosado das fissuras sentidas no peito e sangradas nos lábios.
Rompida a bolsa, a liberdade acena com a expectativa de que nasça à fórceps uma mãe.
Enquanto isso, esperança dorme em colchão de capim cidreira, tranquila.
O amor relutante desbrava profundezas e nasce em terrenos áridos, sim, como as flores do deserto. Raras, mas possíveis. Exceção podia ser regra.
A mulher, ao contrário, enterra-se em cova rasa, não despontara para cuidar, nem de si, quem dirá dos outros.
O amor em vigília, assiste de longe a decadência de uma casa que jamais seria um lar. Lares nascem do desejo, não do abandono.
A criança recém vinda ao mundo, chora... Para...
Para!
Chora!
Num movimento de vai e vem, um contorno feito rascunho da linha qque sobe e desce, até que percebe que a rejeição, ali plantada em terreno fértil, criou árvore frondosa de tronco firme, não perderá mais suas raízes.
Acorda triste, introspectivo, mas forte. O choro é engolido: solução salina curativa. A linha tênue em que se firmava de pé, apesar do aspecto elástico, será atravessada sozinho. Surpreso? Surpresa seria a alma carregar amor em doses de segurança. Abandonado? Se tivesse um acolhimento perfumado de um colo seguro.
Nasceu gigante, o pobre menino. Re(nasceu)...